domingo, 13 de abril de 2008

Os sem-abrigo da machamba

Quem me conhece bem sabe da minha atracção por causas perdidas. Ganhei juízo e já não as tento resgatar mas o magnetismo ainda existe.

Os sem-abrigo que a machamba acolheu já são aproximadamente sete. Nuns dias aparecem mais, noutros menos.
Montaram acampamento (sem tenda, que um sem abrigo que se preze dorme ao relento e também não é conveniente despertar curiosidades) ali, a quinhentos metros da varanda onde tomo o café, fumo, lavo a roupa e lhes observo as rotinas, tão semelhantes às já conhecidas em trabalho de campo informal de outras andanças.
É o ponto de encontro onde, sentados no chão, convivem, descansam, acendem fogueiras (para cozinhar ou para aquecer), tomam banho nuzinhos como vieram ao mundo. Não consegui foi ver de onde vem a água pois nunca a vi chegar.
Sacos trazem eles muitos, de lixo. O lixo da machamba, que já tem três frentes, é lixo de professores, nada com interesse. Andam ao lixo de noite, no centro da cidade e pela manhã trazem-no fresquinho, espalhando-o para o escolher.
Chateia-me mais lixo na machamba, mas espalharem-no, não me incomoda tanto quanto ver pessoas formadas (ou as respectivas empregadas que vai dar no mesmo), com família, casa e emprego assegurados, a fazerem-no.

Agora está lá só um. Aos domingos costumam ser menos, ficam só os desamparados . . . sem-abrigo e sem família . . .
. . . uma trovoada destas, chove que Deus manda e o pobre, debaixo de um plástico no meio da machamba.

3 comentários:

Pedro Penilo disse...

Bem escrito, bem visto!

Marta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marta disse...

Obrigada
Na primeira resposta pus-me a discorrer sobre os elogios que tenho recebido mas decidi retirar o comentário. Poderia ser mal interpretado.
Saudades.