segunda-feira, 2 de junho de 2008

Confissão de Yoani

Tradução (dentro das minhas possibilidades) de um post de Yoani, autora do blog "Geração Y", que referi neste post.

«Denúncia - alegação - confissão

Avisam-me que em cima da mesa de um qualquer gabinete descansa o “meu caso”. Um dossier completo de provas de infracções cometidas, um volumoso processo de ilegalidades que se acumulou nestes anos. Os vizinhos sugerem-me que me disfarce com óculos escuros e desligue o telefone quando quiser falar de algo privado. Pouco, muito pouco - esclarecem-me - pode já ser feito, para que não me toquem à porta uma manhã bem cedo.

Até lá, quero assinalar que não guardo armas debaixo da cama. No entanto, cometi um delito sistemático execrável: Acreditei-me livre. Tão-pouco tenho um plano concreto para mudar as coisas, mas em mim, a queixa substituiu o triunfalismo e isso é – definitivamente - punível. Jamais pude dar uma bofetada a alguém, não obstante neguei-me a aceitar o sistemático esbofeteamento ao meu “eu cívico”. Este último é condenável no mais elevado grau. Para além disso, e apesar de não ter furtado nada alheio, quis “roubar” – em repetidas ocasiões - o que acreditava pertencer-me: uma ilha, seus sonhos, seus legados.

Mas não se fiem; não sou de todo inocente. Tenho em minha posse um montão de coisas: compradas sistematicamente no mercado negro, comentei em voz baixa – e em termos críticos – sobre quem nos governa, pus alcunhas aos políticos e comunguei do pessimismo. Para cumulo, cometi a abominável infracção de acreditar num futuro sem “eles” e numa versão da história diferente da que me ensinaram. Repeti os slogans sem convicção, lavei os trapos sujos à vista de todos e - magna transgressão – uni frases e juntei palavras sem permissão.

Eu declaro – e assumo o castigo que me calhe - que não fui capaz de sobreviver e cumprir todas as leis, ao mesmo tempo.»

Se alguém quiser fazer correcções à tradução, esteja à vontade, eu agradeço.

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