Quando em Lisboa me perguntam como é que é Maputo, como é que são as coisas quando cá venho, invariavelmente começo por destacar o que mais me impressiona: A quantidade de carros topo de gama que circula na cidade.
Nunca vi tantos no mesmo sítio (e já fui a algumas capitais europeias).
Numa cidade onde nos deparamos diáriamente com a miséria, miséria mesmo, isso indigna-me a mim e certamente muito mais a este povo.
Aparentemente o Governo moçambicano, insensível à miséria que o rodeia (e à minha indignação), continua a tratar-se bem venham as "greves" que vierem.
Ah! E há o lixo!!!
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Não há recolha do lixo?
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12 comentários:
Parabens Marta
Veio a África e viu o que nunca viu em mais sítio nenhum. Há de haver alguma coisa em que África e Moçambique em Particular ainda surpreendam quem cá venha.
Marta, levanto cedo desde que tinha 5/6 anos (nesta idade para pastorear), mais tarde para pegar estrada e andar quilómetros até a escola (a pé). Há 5 anos atravessava o deserto que é como chamamos o troço que vai desde o portão que dá acesso ao TANGARÁ atem aos edifícios do campus universitário queimando debaixo do sol das 12/14 horas.
Hoje trabalho. Para ir a minha povoação não posso usar o carapau com que me desloco todos os dias. Preciso de um 4x4. Tenho possibilidades, porque continuo a acordar cedo para trabalhar duro. Lá está o meu Land Cruiser. É um luxo para si. Um carro de toda a utilidade para mim. É isso que lhe choca?
A mim me parece que não. O problema está no preconceito que se tem de África. Não lhe chocaria nada que fóssemos todos indigentes porque essa é a imagem que se projecta de África a partir da Europa e de outros cantos. A ideia de que África é só miséria. Não é bem assim Marta.
Aqui trabalhamos duro. Muitas vezes de baixo do sol sem ar condicionado. Andando de um lado para o outro em estradas de terra batida, e somos remunerados por isso.
Choca-lhe que eu ande no meu carro fruto do meu esforço? Choca-lhe o meu SUV que me ajuda a chegar onde nem os defuntos transportes oliveiras chegavam pelas condições precárias da estrada?
Come on.
Há muita coisa em África (diga-se Maputo) que me surpreende pela positiva e ainda bem, ou não teria voltado.
Sim, o 4x4 é para mim um luxo mas não o considero tal, para as pessoas, como você, que tem que se deslocar para fora da cidade. Para alguns sítios é mesmo uma imposição e ainda bem que alguém os tem se não, nem eu poderia sair daqui para lado algum.
Agora quanto me dizem que, membros das ONGs por exemplo (uma comunidade em franco desenvolvimento), precisam de um 4x4 para ir ali ao xipamanine ou até à Matola . . . ninguém me convence que não poderiam ser um pouco menos gastadores, tendo em conta o que cá vieram fazer.
Quando digo que circulam em carros topo de gama (sem referir marcas porque sou uma naba nesse campo), refiro-me ao carros ultrajosamente caros em vez de carros normais, como os que se conduzem, por exemplo, em Lisboa.
O que me choca é o abismo entre a qualidade de vida de quem vive na cidade (Maputo cimento) e o resto da população. Porque África não é só miséria para uma minoria absurda, como aliás no resto do mundo só que nas outras capitais, as necessidades básicas vão estando mais ou menos asseguradas enquanto que aqui, e continuo a falar de Maputo, saio da Praça OMM e . . . quer convencer-me a mim que aqueles africanos vivem bem.
Eu já passei dificuldades, já vi muito, mas nunca vi tanta miséria. Sim, também. Vai dizer que é mais uma coisa nova para mim. Seja!
Não sei quem possui estes carrões mas se reparou na notícia que provocou este post concordará que existem algumas pistas. Não vai querer convencer-me que os membros da administração central e do governo se deslocam de Fiat dentro da cidade e que o "boloide" que vejo passar é do professor universitário.
E essa insistência, na falsa ideia que eu teria de África e dos africanos (já noutro comentário me acusaram do mesmo) é quase insultuosa.
De facto, de África, para além de um ou outro passeio pontual, só conheço Maputo, mas conheço moçambicanos(angolanos, cabo-verdianos e guinenses), tanto cá como lá fora e conheço também alguns indigentes, nunca me ocorreu que houvesse alguma relação directa entre uns e outros.
olha Marta, eu tou em Lisboa e devo dizer k, da maneira como este país anda tambem me surpreende a quantidade de carros luxuosos e topo de gama que andam por estas bandas e sao vendidas num ápice!não é so em áfrica k isso acontece, no seu proprio país assiste-se a essa realidade!
Pois. Mas no meu próprio país não se dá o caso de quase 90% da população viver no limiar da pobreza (estou a tentar ser generosa) e no meu próprio país existem muitos carros (a mais) mas não são os carrões que se vem por aqui. O problema no meu país é outro. Como toda a gente quer ter um carro e como qualquer um, tenha ou não rendimento para tal, pode pedir um empréstimo (mais ou menos oneroso), as famílias estão a afundar-se em dívidas. Ao crédito automóvel segue-se o crédito para consumo, para quem já vinha com uma sobrecarga do crédito para a habitação . . . o país vai mal mas não há comparação.
Minha gente,
Quando ouvimos falar do orçamento americano para certas coisas absurdas podemos ser tentados a pensar como a Marta: porque esses homens gastam tanto com aquilo quando aqui em Moçambique se morre de picada de mosquito? Isso altera algo? NADA. Anualmente saiem mais orçamentos absurdos se os compararmos à nossa pobreza.
Numa cidade como a nossa, sem um sistema de transporte público eficiente, para quem pode, dá um jeito ter seu carro, quanto mais um 4x4 que nos ajude a chegar à nossa zona rural que, apesar de nos termos urbanizado não nos desligamos dela.
Se calhar em lisboa faz sentido uma família comprar um Fiat UNO ou um PICANTO da Kia. São pequenos e fáceis de estacionar/parquear numa cidade com MUITO trafego rodoviário. Faz sentido comprar um carro desses aqui?
Ao comprar esses carros, os lisboetas estão, penso eu, condicionados pelo trafego, pelo sistema tributário e, eventualmente, pelo preço. Eles também desejam andar num GRAND MARK II, MErcedes, Jaguar etc e vários outros que, sem preconceitos ou inibições muitos moçambicanos compram e usam com todo o direito de o fazerem.
Temos que desmistificar essa mania de que já que a maioria vive na miséria todos deviamos APARENTAR ser miseráveis. A pobreza é um facto em todo o mundo (mesmo em portugal ou nos EUA) mas isso NUNCA impediu o aparecimento de gente mais ou menos abastada ou com posses. Porque teria que ser diferente aqui?
Os membros do Governo Central não andam em carritos em Moçambique como não andam os membros do Governo Português. O meu carro do dia a dia não é um fiat 1300 CC é um toyota de 2500cc como é o carro de algum portugues em lisboa e no porto. Porque deveria estar eu impedido de o fazer? Porque há 2 casas da minha alguém não tem carro ou nesse dia não tem dinheiro de pão? Eu também passei fome.
Não nos olhem como miseráveis sem sonhos. Gente condenada a indigência que não pode prosperar. Trabalhamos no duro e muitos merecem os 4X4 que com o andar do tempo acabam comprando.
O SONHO COMANDA A VIDA. Eu sonho com um Moçambique próspero. Sou realista... não sonho com um Moçambique em que todos andemos de carro etc... sonho com um Moçambique onde a maioria da população viva acima da malfadada linha da pobreza. Onde comprar PÃO não seja problema. Onde muitos mais possam sonhar ter um carro básico para o dia a dia.
Como o emigrante diz, não é só em Moçambique que há carros de luxo (os que os tem também tem direito de os ter) enquanto a pobreza espreita na esquina. Como também diz o anónimo dá jeito ter carro próprio numa cidade sem transporte público.
Um dia chegaremos ao sistema de transporte público de Londres e outras grandes cidades que, em algum momento, enfrentaram os problemas que temos e cujas cidades cresceram DEVIDAMENTE PLANIFICADAS. Sonho com isso.
Recuso com veemência a condenação da realização dos nossos sonhos em função dos (muitos) que andam de chapa. Que se dirá se no meu quarteirão no bairro do Maxaquene decidirmos criar a estrutura de um condomínio, derrubando murros interiores, contratarmos empresas de segurança privada etc? De certeza que não temos MORAL e que SOMOS INSENSÍVEIS às condições da maioria... será que somos?
Marta, eu disse carros de luxo e topos de gama! se houvesse fiats e toyotas eu nao me admirava, agora a qtd de carros de luxo e topos de gama k há (e cada vez mais) e antes de chegarem ja estarem todos vendidos e reservados isso sim é preocupante!o seu país está em crise mas vá aos stands de carros de luxo e vai ver se eles falam em crise!até querem importar mais carros!contraditório nao axa?
"Os membros do Governo Central não andam em carritos em Moçambique como não andam os membros do Governo Português"
Isso choca-me tanto aqui como em Portugal porque quem os paga é o povo, esse, que por este andar, nunca vai chegar ao "sistema de transporte público de Londres e outras grandes cidades".
Gostaria de debater melhor esta questão, pois acho importante mas tenho que estudar.
Obrigada pelos comentários.
viva a democracia!
Dispa-se de todo o preconceito e venha ao debate. Lembre-se que "invariavelmente começo por destacar o que mais me impressiona: A quantidade de carros topo de gama que circula na cidade."
Lembre-se que lhe tenho dito que temos, nós moçambicanos e africanos no geral, o direito de andar nesses carros como têm europeus americanos e asiáticos. Moçambique não é o único canto do mundo com "abismos". Lisboa tem os seus porto tb. Nem isso impede que as pessoas sonhem e desfrutem do seu suor o do fruto do ilícito.
África não é nem deve ser o eterno exemplo de miseráveis. Onde qualquer sinal de "não miserabilidade" causa espanto nem que seja pela quantidade de carros "topo de gama" (o que é sempre relativo. O meu land cruiser é um carro banal para muitos. Mas é o meu topo da gama) que circula na cidade.
senhor! mais nua de preconceitos não posso estar mas tenho mesmo que estudar.
Sempre que vou a Maputo, também fico atónito com a quantidade de carros luxuosos e mansões que aparecem por todos os sítios.
Em circunstâncias normais isto seria um bom sinal que Moçambique está a crescer e a desenvolver-se, mas essa infelizmente não é a realidade, o crescimento é muito lento e as desigualdades são cada vez mais gritantes. Neste cenário, tanta ostentação gratuita, incomoda e levanta questões. Por exemplo, comenta-se que muitas fortunas têm origem em negócios duvidosos e que muitos destes ricalhaços são figuras ligadas ao poder vigente
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